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Para enfrentar à desertificação na Caatinga, famílias quilombolas avançam na recuperação de áreas no Sertão de Pernambuco

Para enfrentar à desertificação na Caatinga, famílias quilombolas avançam na recuperação de áreas no Sertão de Pernambuco

Três comunidades tradicionais, atendidas pelo Projeto Recupera Caatinga, intensificam ações de reflorestamento.

“Achei muito legal aquele momento. Fizemos bolinhas com as sementinhas e depois jogamos na serra com a baladeira para nascer uma arvorezinha”. São com estas palavras que Jeová Mendonça, 11, define seu sentimento em participar da produção e lançamento de bombas de sementes no quilombo de Inhanhum, em Santa Maria da Boa Vista (PE). As oficinas foram realizadas durante a execução do Projeto Recupera Caatinga, que conta com o patrocínio da Petrobras. A comunidade é banhada pelo Rio São Francisco, único rio perene, atualmente ameaçado por causa da desertificação.

As bombas são compostas por várias espécies nativas da caatinga que compõem a flora da comunidade. Geralmente no primeiro dia de oficina, os participantes colocam a mão na terra para produzir as bombas. Após o preparo, elas secam ao ar livre e, no dia seguinte, são lançadas nas áreas de difícil acesso.

De acordo com o coordenador do projeto, Alexandre Pereira, essa estratégia permite semear centenas de árvores num só dia, com poucos recursos, apostando que a natureza cumpra a sua função. “É muito gratificante poder recuperar a caatinga! A germinação das sementes ocorrerá quando as condições do meio favorecerem a germinação. Isso normalmente ocorre no período chuvoso”, afirma.

A 112 quilômetros de Inhanhum, está à comunidade quilombola de Jatobá II, município de Cabrobó, também atendida pelo Projeto Recupera Caatinga. Lá, a equipe técnica e famílias participantes do projeto, especialmente a juventude, estão ampliando o plantio de mudas nativas na comunidade.

Dados recentes revelam que o município, localizado na região do São Francisco do estado, é identificado como um dos núcleos de desertificação no semiárido nordestino e aparece no relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma área já desertificada.

 

Para mitigar os efeitos das variações climáticas e acelerar o processo de restauração das áreas degradadas, reserva legal, e matas ciliares de riachos e do rio São Francisco, o Projeto Recupera Caatinga promoveu iniciativas que envolveram as famílias que vivem nos quilombos. Ainda segundo Alexandre, o trabalho exige também o envolvimento de pessoas voluntárias.

O trabalho em regime de mutirão e as práticas de campo oferecidas pelo projeto ocorrem com freqüência, aproveitando inclusive o período chuvoso na região, com o objetivo também de investir de maneira permanente na conscientização ambiental.

Produção e lançamento de bombas de sementes

A confecção de bombas de sementes consiste numa técnica ancestral japonesa que promove o plantio de espécies através do arremesso de bolas compostas de argila, substrato vegetal e sementes. Elas devem ser mantidas protegidas dos insetos, pássaros, da temperatura e da luz. Estas bolas de sementes serão ativadas pelas primeiras chuvas ou pela irrigação manual.

Recuperando a caatinga em números

A intervenção do projeto nos quilombos de Jatobá II, e Inhanhum e Cupira, também situada em Santa Maria da Boa Vista, apresenta resultados significativos. Foram implantados 115 bosques climáticos familiares, ocupando uma área de 73,8 hectares; em áreas degradadas o trabalho de recuperação ocorreu em 30 hectares, e nas áreas de mata ciliar do Rio Francisco e Riacho Boqueirão, o plantio de espécies nativas foi realizado em seis quilômetros. Além disso, 180 moradias quilombolas já foram arborizadas, e nas extensões de difícil acesso, a exemplo das reservas legais, 90 hectares já estão em processo de recuperação, não só por meio dos plantios, como também através do lançamento de mais de 18 mil bombas de sementes lançadas.

Projeto Recupera Caatinga

O Projeto Recupera Caatinga é uma realização do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), com patrocínio da Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa beneficia diretamente 270 famílias quilombolas, incluindo crianças, jovens, mulheres e adultos.

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